É fim-de-semana, há tempo para duas leituras por dia.
Uma, "Andar e Cair", de J M Vieira Mendes:
"Quando uma criança cai desamparada na rua (e é frequente as crianças caírem), logo um adulto prestável estende o braço para a levantar, os pais correm para a libertar do chão e a criança atarantada mostra no olhar uma espécie de incompreensão perante a movimentação e a rapidez da reação crescida. Não a deixam estar no chão, deitada, porque a prostração é sinal de dor,
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de incapacidade ou de vergonha. Reza a história que a evolução do ramo humano da família dos hominídeos se dá graças à elevação, de quadrúpedes a bípedes, e ninguém quer uma criança primata de há 7 milhões de anos. Eu fico muitas vezes com a ideia de que a criança, por ela, ficava mais um tempo estendida, a apreciar a calçada.
Estou aliás convencido de que a frequência das quedas, para além da força da gravidade e da inocência motora, tem também que ver com uma atração
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não só pelo solo mas pela horizontalidade e que, portanto, a ajuda que o adulto presta é impulsionada por um processo de aculturação, desta mania humana de procurar a verticalidade da stand-up tragedy, como se apenas o lugar ereto (não será patriarcal?) fosse digno de espetáculo."
Mais, aqui:
https://almanaquemag.com/teatro-cosmico-4/
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